DIVAGAÇÕES SOBRE LINHAS FERROVIÁRIAS - PARTE IX
LINHA DE LAMEGO
Este, ao invés dos outros oito, passou do papel à primeira fase ... iniciou-se a construção, foram edificadas as infra estruturas ... mas esbarrou no impasse de um homem que teria o principal apoio no clero da época!
* A "LINHA DE LAMEGO" teria sido uma ferrovia com uma extensão aproximada de vinte quilómetros que ligaria as cidades de Lamego e Peso da Régua (localizadas em margens opostas do rio Douro) e que seria de via métrica (mil milímetros entre carris). Por mero acaso, teria sido o único troço em construção da linha da Régua a Vila Franca das Naves (!!)
* Recuemos aos tempos da monarquia, em outubro de 1905, já estavam a ser realizados estudos para a construção daquela ferrovia; tendo-se verificado que o traçado proposto seria deveras complicado, considerando a sua saída da estação da Régua e a travessia dos rios Douro e Varosa, com o agravante do considerável desnível da cidade de Lamego. Contrariando todas estas dificuldades, era sabido que a linha tinha uma muito elevada importância, devido ao fato de o seu trajeto completo unir as regiões das Beiras (Alta e Baixa), com a duriense. Assim, em finais da década de 1920 um grupo de empresários vinhateiros avançou com um projeto que uniria Lamego à Régua. De início o projeto foi simplesmente denominado por "Linha da Régua a Lamego e integrava a rede complementar dos Caminhos de Ferro do Estado. As obras empregaram sempre um número bastante considerável de trabalhadores e eram dirigidas pelo Engenheiro ferroviário Muginsteins, sendo sempre muito apoiadas pela população pelo acentuado alívio no número de desempregados que já se sentia na época.
* Pelos finais de 1931, a linha estava em construção avançada e as obras adiantadas em relação ao tempo projetado, pensando-se nessa altura prolongar a linha até à Vila da Ponte. Contudo, logo no início do ano seguinte, o Fundo Especial de Caminhos de Ferro (o principal financiador daquele projeto), deparou-se com vários problemas financeiros, em grande parte motivados pela Grande Depressão e, para não ficar completamente descapitalizado foi superiormente determinado que se reduzissem e se atrasassem os pagamentos aos diversos empreiteiros responsáveis pelo avanço das obras e ainda que se suspendessem várias obras de arte, nomeadamente a da po0nte sobre o Rio Douro, nesta linha. Apesar destes percalços a ideia do prolongamento da linha até à Vila da Ponte, manteve-se firme, tanto que no período de dois anos (1931 e 1932) executaram-se trabalhos de campo, com vista ao estudo desta linha até Mondim da Beira, passando pela localidade da Granja Nova, já no concelho de Tarouca.
* Após alguns abrandamentos, as obras foram normalizadas e iam avançando a um ritmo eficaz, sendo a ponte sobre o rio Varosa inaugurada em 20 de outubro daquele ano (1932), numa cerimónia apadrinhada pelo então Ministro das Obras Públicas, que logo previu a conclusão das obras da linha até Lamego, durante o ano de 1934. Em meados de 1933 ficou concluída a travessia do Rio Douro pela ponte que havia sido suspensa dois anos antes, tendo a Comissão Administrativa do Fundo Especial de Caminhos de Ferro dado o seu aval à realização de várias obras infraestruturais.
* Em 21 de agosto de 1934, o então Ministério das Obras Públicas e Comunicações aprovou defini8tivamente o auto de receção da empreitada número dez, que se referia ao troço da linha entre a Régua e Lamego e que seguiria até Vila Franca das Naves, que tinha sido entregue à "Companhia Nacional de Caminhos de Ferro".
* Lamentavelmente o projeto foi abandonado nos finais dos anos trinta, devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial, mas fundamentalmente pelos entraves colocados por um abastado proprietário agrícola local que se opunha à passagem da linha pelo interior das suas propriedades rústicas. Na altura em que se verificou este impasse todo o leito da via estava pronto, faltando apenas a colocação dos carris. Com efeito o leito da linha, ainda hoje, pode ser seguido pelo facto de o seu traçado estar praticamente intatato. As duas obras de arte construidas especificamente para a linha, continuam em serviço; a ponte da Régua (sobre o Douro) adapatada ao trânsito rodoviário e a do rio Varosa é utilizada como travessia dos agricultores, a pé aos nos seus veículos para os respetivos terrenos localizados nas margens opostas.
* Resumidamente a linha teria então vinte quilómetros de extensão; iniciar-se-ia na estação ferroviária do Peso da Régua, atravessaria a ponte sobre o rio Douro construída no ano de 1927, cruzava-se com a Estrada para Armamar, acompanhava a margem direita do rio Varosa até à Central Hidroelétrica. Teria a primeira paragem do percursao em Quintião, de onde passava para a margem oposta através de uma ponte de pedra construída para o efeito. Nesta margem teria também paragens nas localidades de Cambres, Portelo, Souto Covo e Sande. Depois de passar pelas traseiras da Quinta das Brolhas, a linha iria terminar em Lamego, no sítio onde em nossos dias se localiza o Palácio da Justiça.
* Quanto às duas obras de arte, relembremos a Ponte Ferroviária da Régua, cuja construção terminou no ano de 1933 e que veio a ser adaptada para o trânsito rodoviário em 1947, e a Ponte Ferroviária do Varosa que foi inaugurada em 20 de outubro de 1932 e que tem a extensão de quase cento e quarenta nove metros, o arco com o vão de cinquenta e cinco metros e edificada a quarenta metros do leito do rio.
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