RAMAL DA ALFÂNDEGA!
* Socorrendo-me de várias publicações sobre a temática das extintas linhas ferroviárias, nomeadamente a "wikipédia livre" e para que a atual juventude vá conhcendo um pouco da nossa verdadeira história (esta sim, nacional) proponho-me dar algumas pequenas achegas; até porque na minha geração para se ser aprovado no exame da 4ª classe (ensino básico), tínhamos de cantar as linhas e ramais dos caminhos-de-ferro portugueses; e o saber nunca ocupou demasiado lugar.
* Assim, o "Ramal da Alfândega" é uma curta via ferroviária, em bitola ibérica, que liga, no sudeste da cidade do Porto, a Estação Ferroviária de Campanhã (antiga do Pinheiro) ao terminal de Porto-Alfândega (precisamente onde hoje se encontra o parque de estacionamento com o mesmo nome). Atualmente encontra-se totalmente encerrada ao tráfego.
* Este ramal tem uma extensão de 3,896 quilómetros, tendo sido utilizado, unicamente, por serviços de mercadorias. As obras de arte presentes neste ramal era uma antiga ponte sobre a Rua do Freixo (hoje inexistente e que ladeava a Fábrica Minchin & Mário Navega, em ruínas) e três túneis: ALFÃNDEGA I (oitenta metros), ALFANDEGA II (vinte e três metros) e ALFANDEGA III (mil, trezentos e vinte metros).
* A Alfândega do Porto era, no século XIX, um local de grande movimento comercial marítimo, pelo que era de grande interesse a sua ligação à rede ferroviária nacional.
* Um decreto-lei de 23 de Junho de 1880 estabelece a construção de um ramal ferroviário entre a estação de Pinheiro (atual Campanhã) e a Alfândega do Porto. O estudo do projeto foi da responsabilidade de JUSTINO TEIXEIRA, que se baseou num trabalho inicial de MENDES GUERREIRO. O projeto viria a ser aprovado em 09 de Outubro de 1880 e os trabalhos de construção iniciaram-se a 17 de Julho de 1881, tendo o mesmo sido inaugurado a 08 de Novembro de 1888.
* Uma Carta de Lei de 29 de Agosto de 1889 estabeleceu que a companhia que obtivesse a futura exploração do Porto de Leixões devia construir uma ligação ferroviária entre este porto e o Ramal da Alfândega; no entanto, uma representação de comerciantes e industriais da cidade invita, publicou uma declaração no jornal "O Primeiro de Janeiro" (felizmente ainda existente) em 28 de Setembro de 1904, pedindo ao governo para construir a ligação por Leixões através de Contumil em vez da Alfândega, argumentando que esta solução seria mais vantajosa para as regiões do Minho e Douro, e que o Ramal já não detinha capacidade para mais tráfego.
* Em 15 de Abril de 1903, o governo ordenou que a Direção do Minho e Douro iniciasse a elaboração dos estudos e orçamentos necessários ao prolongamento do Ramal até Leixões, uma vez que a Companhia das Docas do Porto e dos Caminhos-de-Ferro Penínsulares se tornou proprietária da exploração do Porto de Leixões, e, assim incumbida da construção deste projeto, que viria a ser elaborado pelos engenheiros ELEUTÉRIO DA FONSECA e ALVES DE SOUSA e que incluia a construção de uma estação ferroviária em Leixões, que servisse, igualmente, a Linha de Circunvalação do Porto (atual Linha de Leixões), que ligava a área portuária à Estação de Contumil, na Linha do Minho. A 01 de Julho desse ano, foi publicado um decreto das Cortes Gerais, que previa que a ligação entre a Alfândega e Leixões devia ser construida pela ASSOCIAÇÃO COMMERCIAL DO PORTO, caso a Companhia das Docas do Porto e dos Caminhos-de-Ferro Peninsulares não realizasse este projeto nos prazos estipulados.
* No entanto, o prolongamento do Ramal até Leixões voltou a ser discutido com a construção do Porto de Leixões, no ano de 1892, tendo o mesmo sido defendido pela atual Associação Comercial do Porto.
* A inauguração do Porto de Leixões levou à perda de importância, como terminal de embarque e desembarque de mercadorias, da Alfândega do Porto, começando a pôr em causa a viabilidade do Ramal da Alfândega.
* Mesmo assim, a ligação entre a Alfândega e Leixões era um dos projetos abrangidos numa lei de financiamento para construção de novas linhas (ao invés do que acontece nos nossos dias), publicada em 14 de Julho de 1899; e, em 1902, decorreram obras de duplicação da via neste ramal, como forma de reduzir os problemas de tráfego na Estação de Campanhã. O relatório de 1931-1932 da Direção-Geral de Caminhos de Ferro incluiu, no seu programa de melhoramentos a realizar nas linhas do estado, a renovação da via entre Campanhã e Ermesinde e no ramal da Alfândega.
* A cada vez mais reduzida atividade do ramal, aliada à dificuldade do traçado, bem como a pouca importância no sistema ferroviário nacional (apanágio dos nossos dias), levou ao seu encerramento em Junho de 1989.
* A última composição que fez o pequeno percurso do ramal já foi tracionada por uma locomotiva diesel da série 1400, após por lá terem passado as locomotivas a vapor e os locotratores da série 1150, da marca "Sentinel".
* O ramal está totalmente encerrado ao tráfego, mas o seu traçado, apesar de abandonado, está quase intato, podendo ser facilmente visível por quem circula na Marginal do Rio Douro (Avenidas Gustave Eiffel e Paiva Couceiro).
* Um grupo de entusiastas, associados no GARRA - Grupo de Ação para a Reabilitação do Ramal da Alfândega - defende a sua reabilitação, sugerindo, entre outros, o prolongamento do serviço de passageiros da Linha de Leixões até Porto-Alfândega, criando-se uma exploração comercial, pela CP Porto do itinerário Porto (Alfândega)/Porto (Campanhã)/Porto (Contumil)/São Gemil/Leixões.
* Também se encontra em estudo, a construção da "ciclovia das Fontainhas" (com ligação à "ciclovia da Marginal") que transformaria parte do percurso em ciclovia, conforme Carlos Manta Oliveira, em 01 de Setembro de 2009.
Compilado em Gondomar, por "texasselvagem".
Tenho fotos dos comboios na Alfandega ... dos anos 70 .( uma ou duas )
Gostava de percorrer essa linha de Campanhã até à Alfandega , mas o terreno está vedado em Campanhã e pertence à refer ...
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