DESASTRE FERROVIÁRIO DE MOIMENTA-ALCAFACHE!
* O "DESASTRE FERROVIÁRIO DE MOIMENTA-ALCAFACHE" (ou simplesmente, o Desastre Ferroviário de Alcafache) foi um acidente de natureza derroviária, ocorrido na Linha de Beira Alta, em 11 de Setembro de 1985; tendo sido o pior desastre ferroviário ocorrido, desde sempre, no nosso país.
* O acidente deu-se junto ao Apeadeiro de Moimenta-Alcafache, na freguesia de Moimenta de Maceira Dão, no concelho de Mangualde (distrito de Viseu). Este apeadeiro situa-se entre as Estações Ferroviárias de Nelas e Mangualde, numa zona de via única.
* O acidente envolveu duas composições de passageiros; uma efetuando o serviço internacional entre o Porto e Paris (sud-express), que circulava com dezoito (18) minutos de atraso, a outra fazia um serviço de natureza regional, com destino a Coimbra (provinha da Guarda). A composição regional era tracionada pela locomotiva número 1439 e constituida por 7 (sete) carruagens, construidas pela companhia "Sociedades Reunidas de Fabricações Metálicas" (sorefame, empresa já extinta); o Sud-Express era formado pela locomotiva número 1961 que rebocava 12 (doze) carruagens. No total, viajavam cerca de 460 (quatrocentos e sessenta) passageiros.
* O serviço regional, com paragens em todas as estações e apeadeiros, chegou à Estação Ferroviária de Mangualde, onde deveria permanecer até fazer o cruzamento com o Internacional. No entanto, e não obstante o fato de terem sido transmitidas ordens para que a prioridade absoluta na circulação fosse atribuida ao "sud-express!", o regional continuou viagem, estimando que o atraso na marcha deste fosse suficiente para a chegada à proxima estação (a de Nelas), onde então se poderia fazer o crizamento. No entanto (e azares do destino...), o internacional estava circulando com um atraso menor do que era esperado, considerando - erroneamente - que a via estava livre até à estação de Mangualde - também continuou viagem. Após a partida, o chefe da estação de Nelas telefonou para a estação de Moimenta-Alcafache (apeadeiro, mas servido por chefe e com linha para cruzamento) para avisar da partida do Internacional (dada a sua prioridade sobre as outras composições); sendo então informado que o regional já se encontrava a caminho. Prevendo que as composições iriam colidir, tentou avisar a guarda-barreira de uma passagem de nível existente entre ambas as estações, de modo a que esta parasse a composição através da colocação de uma bandeira (aberta e de cor vermelha) ou da possível colocação de pertardos na via (e que ela teria autonomia para o fazer, mediante ordens de um superior hierárquico, como tinha sido o caso). No entanto, esta manobra (bem pensada e já em desespero de causa) não foi possível, porque o comboio já por lá havia passado.
* Por volta das 18h37, ambas as composições colidiram, encontrando-se a circular a uma velocidade aproximada de cem quilómetros/hora. O choque destruiu as locomotivas e algumas carruagens em ambas as composições, e provocou vários incêndios devido ao combustível presente nas locomotivas e nos sistemas de aquecimento das carruagens. Devido ao fato de os materiais urilizados nas carruagens não serem à prova de chamas, o fogo propagou-se rapidamente, produzindo enormes quantidades de fumo (e altíssimas labaredas).
* Imediatamente após o acidente, gerou-se o pânico entre os passegeiros, que tentaram sair das carruagens. Várias pessoas, entre elas, crianças, ficaram presas nos destroços, tendo sido socorridas por outros passageiros. Porém, outros, não conseguiram sair a tempo, tendo morrido carbonizados ou asfixiadas.
* O alerta foi dado por militares da Guarda Nacional Republicana, que se encontravam em operações na Estrada Nacional 234 (EN234), nas proximidades do local do acidente. Apesar de os serviços de salvamento terem chegado escassos minutos após o acidente, a situação no local era caótica, com incêndios no material circulante e na floresta em redor, vários feridos e uma multidão em pânico.
* Estima-se que, neste acidente, tenham falecido cerca de 150 (cento e cinquenta) pessoas, embora as consequências do acidente, e a falta de controlo sobre o número de passageiros a bordo em cada uma das composições, impeçam uma contagem exata do número de vítimas mortais. A estimativa oficial aponta para 49 (quarenta e nove) mortos, dos quais apenas 14 (catorze) foram identificados, continuando (ainda hoje) 64 (sessenta e quatro) passageiros oficialmente desaparecidos.
* A maior parte dos restos mortais que não foram (ou não puderam) identificados foram sepultados numa vala comum junto do local do acidente, onde também foi erguido um monumento em memória das vítimas e das equipas de salvamento (o autor passou pelo local há cerca de dois anos e ficou com todo o corpo arrepiado).
* Verificou-se que os chefes das estações não comunicarem entre si, e ao posto de comando de Coimbra (como estava regulamentado), a alteração do local de cruzamento de Mangualde para Nelas; tivesse isto sido feito, a discrepância na circulação teria sido detetada, logo uma das composições teria ficado parada na estação, de modo a que o cruzamento tivesse sido feito em segurança.
* Por outro lado, devido à falta de um equipamento próprio, revelou-se impossível comunicar diretamente com os comboios envolvidos (o que nos tempos atuais já não acontece);; a única forma de avisar os maquinistas era através da sinalização e da instalação de petardos na via, o que neste caso não se revelou suficiente (!). Tivesse tudo isto sido realizado, as composições poderiam ter sido paradas nas estações. O sistema de comunicação utilizado na altura naquele troço, denominado por "Cantonamento Telefónico", dependia do uso de telefones para transmitir informações entre as estações e o cento de comando.
* Após o acidente, foram instalados sistemas mais avançados de segurança, sinalização e controlo de tráfego, como o "Controlo de velocidade" (Convel), permitindo uma maior eficiência e segurança nas operações ferroviárias, e fazendo com que acidentes como este sejam praticamente impossiveis de acontecer; por outro lado, a intridução do sistema rádio-solo permite uma comunicação direta entre maquinistas e as centrais de comando. A partir daqui foi proibida a utilização de materiais que facilitem a propagação das chamas nos comboios.
CRONOLOGIA
11 DE SETEMBRO:
a) - 15h57: parte da Estação Ferroviária do Porto/Canpanhã, com 17 (dezassete) minutos de atraso, a composição internacional número 315, denominada por "sud-express", com destino a Vilar Formoso, de onde iria seguir viagem para Espanha e França (Paris);
b) - 16h55; parte, à hora prevista, a composição regional número 1324, da Estação Ferroviária da Guarda, com destino a Coimbra;
c) - 18h19: Hora suposta a que o serviço internacional deveria chegar à Estação Ferroviária de Nelas, no entanto , chegou com um ligeiro atraso, tendo conseguido recuperar algum tempo perdido na saída do Porto, durante a viagem;
d) - 18h23: O serviço regional chega à Estação de Mangualde, com pouco ou nenhum atraso. Aqui em circunstâncias normais, deveria ter aguardado pelo cruzamento com o serviço internacional; no entanto, prossegue viagem até à Estação de Alcafache, para onde o cruzamento havia sido mudado;
e) - 18h31: Hora suposta a que o serviço internacional deveria chegar à Estação Ferroviária de Mangualde;
f) - 18h34: Hora à qual o serviço regional deveria ter chegado à Estação de Alcafache, se o cruzamento se tivesse efetuado em Mangualde, como normalmente. Prossegue a marcha, pois o cruzamento com o serviço internacional foi, de novo, alterado, agora para a Estação de Nelas;
g) - 18h37: Dá-se a colisão entre as duas composições, entre o atual apeadeiro de Moimenta-Alcafache e a estação de Nelas;
h) - 18h41: Hora suposta a que o serviço regional deveria ter chegado a Nelas,
13 DE SETEMBRO:
i) - 16h30: Providenciou-se o enterro dos restos mortais (irreconhecíveis, na maior parte) não identificados no Cemitério de Magualde, segundo ordens do Ministério da Justiça;
14 DE SETEMBRO:
j) - Dá-se a recolha dos últomos restos mortais e desinfestação da via;
16 DE SETEMBRO:
k) - É restabelecida a circulação ferroviária no troço onde se deu o desastre. É publicado, no periódico "Correio da Manhã", o balanço provisório deste desastre; oito mortos, cento e setenta feridos, cento e dez sobreviventes e sessenta e quatro desaparecidos;
18 DE SETEMBRO.
l) - Passa o primeiro serviço Internacional neste troço, após o acidente. Nele circulam sessenta e um (61) sobreviventes do desastre, com destino a França.
Compilado em Gondomar, por "texasselvagem"
NOTAS: Todos os parênteses () são de minha autoria e apenas expressam a minha opinião,
Texto escrito segundo o atual Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
FONTES: Publicações do acervo do autor e
Recortes jornalísticos da época.
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